Sociedade Brasileira de Educação Matemática

Artigo

O ENSINO DE ESTATÍSTICA NO BRASIL

Irene Mauricio Cazorla (icazorla@uol.com.br)

Universidade Estadual de Santa Cruz-UESC, Brasil (http://www.uesc.br/arbelos)

A Estatística no Brasil, aos poucos, retoma seu prestígio, tanto no âmbito educacional, quanto acadêmico, face a sua importância na formação científica e ética de cidadãos e ao seu crescente uso numa sociedade cada vez mais informatizada. Esse reconhecimento se traduz nas diretrizes dos Parâmetros Curriculares Nacionais da Educação Básica, que inclui, pela primeira vez, de forma oficial, o seu ensino desde a infância. Todavia, os professores responsáveis por essa tarefa, pedagogos e licenciados em Matemática, não foram preparados para dar conta desse desafio. O presente trabalho tem como objetivo analisar o estado da arte da pesquisa sobre o ensino de Estatística no Brasil, focando a Educação Básica e a formação de usuários. Conclui-se que é preciso repensar a formação inicial e continuada dos professores que lecionam Matemática na Educação Básica, consolidar os grupos de pesquisa e viabilizar a socialização dos saberes produzidos na escola para atingir a alfabetização estatística.

APRESENTAÇÃO

A Educação Estatística no Brasil tem seu marco histórico na Conferência Internacional "Experiências e Expectativas do Ensino de Estatística - Desafios para o Século XXI", realizado na Universidade Federal de Santa Catarina (http://www.inf.ufsc.br/cee/) (UFSC, 1999) e começa a tomar forma, enquanto área de pesquisa, com tendência crescente e perspectivas de consolidação.

A necessidade de dar respostas aos problemas enfrentados no ensino de conceitos e procedimentos estatísticos deve-se, principalmente, a oficialização de seu ensino na Educação Básica, através dos Parâmetros Curriculares Nacionais-PCNs (http://www.mec.gov.br/sef/relat/gestao.shtm)  (Brasil, 2005a). Nos eventos nacionais e regionais, ligados à Educação Matemática ou Estatística, observa-se um número crescente de professores de Matemática da Educação Básica que procuram mini-cursos, oficinas, relatos de experiências, a fim de encontrar material e metodologias que lhes permitam trabalhar esses conceitos e procedimentos, tendo em vista a lacuna na formação inicial. Contudo, os resultados das pesquisas relativas ao ensino da Estatística se encontram espalhados na comunidade acadêmica.

O presente trabalho faz um breve histórico do ensino de Estatística no Brasil, elencando instituições, grupos e pesquisadores que vêm pesquisando aspectos relativos ao ensino-aprendizagem desta ciência, nos diversos níveis educacionais. O trabalho é de cunho descritivo e objetiva fazer um mapeamento da pesquisa nessa área.

Os dados coletados na internet foram: sobre os cursos de bacharelado em Estatística no portal do Ministério de Educação e Desporto - MEC (http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/curso.stm) (Brasil, 2005b); sobre os cursos de mestrado e doutorado do portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior – CAPES

(http://www1.capes.gov.br/Scripts/Avaliacao/MeDoReconhecidos/Area/GArea.asp)

(CAPES, 2005); sobre as universidades, dissertações e teses, dos portais dessas instituições; dos pesquisadores e grupos de pesquisa da Plataforma Lattes (http://lattes.cnpq.br/), através do Sistema Eletrônico de Currículos (http://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/index.jsp), que coleta informações curriculares dos pesquisadores num formato padrão e do Diretório dos Grupos de Pesquisa no Brasil (http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/) que contém os recursos humanos engajados no grupo, às linhas de pesquisa em andamento, às especialidades do conhecimento, os cursos de mestrado e doutorado com os quais os grupos interagem e à produção científica e tecnológica do grupo; das sociedades científicas relacionadas e eventos, dos portais ou anais.

Para encontrar os pesquisadores foram analisados os trabalhos publicados em livros, revistas ou eventos nacionais e regionais. Depois foi analisado o currículo Lattes de cada pesquisador para verificar a existência de trabalhos correlatos, orientações etc. Também foram enviados e-mails para esses pesquisadores solicitando informações adicionais. Infelizmente, esses dados não podem ser explorados no presente trabalho, mas serão disponibilizados no portal da Editora Via Litterarum (http://www.vialitterarum.com.br/educaçao_estatística). Neste trabalho, entende-se que a Estatística engloba a teoria de probabilidades e é sinônimo de estocástica.

O ENSINO DE ESTATÍSTICA NO BRASIL

No Brasil, a história da Estatística está associada à história do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (http://www.ibge.gov.br), cujas raízes foram fincadas ainda durante o Império. Seu ensino remonta ao final do século XVIII, ligado ao cálculo de probabilidades, destinado à formação de engenheiros militares, conforme a Associação Brasileira de Estatística - ABE (http://www.redeabe.org.br/historia.htm) (ABE, 2005).

Aos poucos, as disciplinas de Estatística foram sendo incorporadas nos diversos cursos de Agronomia, Medicina, Ciências Sociais dentre outros. Essas disciplinas, conhecidas como disciplinas de serviço (Wada, 1996), têm como objetivo instrumentalizar diversos profissionais (usuários) para o uso adequado das ferramentas estatísticas. O primeiro curso de graduação, Bacharelado em Estatística, foi criado na UFRJ, em 1946 e, hoje, segundo o MEC (Brasil, 2005b), o Brasil conta com 27 cursos de bacharelado credenciados (Anexo 1) (http://www.educacaosuperior.inep.gov.br/), sete cursos de mestrado (USP, UNICAMP, UFSCar, UFMG, UFRJ, UFPE e UFRN) e cinco de doutorado (USP, UNICAMP, UFMG, UFRJ e UFSCar), conforme Anexo 2

(http://www1.capes.gov.br/Scripts/Avaliacao/MeDoReconhecidos/Area/GArea.asp).

Observa-se que existem dois programas de Mestrado e Doutorado em Agronomia, um com ênfase em Estatística e Experimentação Agronômica, da Escola Superior de Agronomia Luiz de Queiroz - ESALQ, da USP (http://www.esalq.usp.br/pg/11134.htm) e, o outro, em Estatística e Experimentação Agropecuária da Universidade Federal de Lavras – UFLA (http://www.prpg.ufla.br/estatistica/est_index.htm).

Na Educação Básica os tópicos de Estatística fazem parte da disciplina de Matemática e, antes dos PCNs, eram um dos últimos tópicos do livro-texto, ou seja, quase nunca ensinados (Panaino, 1998). Hoje essa situação mudou substancialmente. Segundo Cazorla (2002), os PCNs enfatizam a necessidade dos sujeitos serem capazes de comunicar-se, solucionar problemas, tomar decisões, fazer inferências, para agir como consumidores prudentes ou para tomar decisões em suas vidas pessoais e profissionais. Deve-se desenvolver atitudes positivas em relação à Estatística, para que os sujeitos possam “compreender a importância da Estatística na atividade humana e de que ela pode induzir à erros de julgamento, pela manipulação de dados e pela apresentação incorreta das informações (ausência da frequência relativa, gráficos, escalas inadequadas)”.

Os tópicos relativos à Estatística se encontram no “Bloco Tratamento da Informação” (Brasil, 1997a e 1998) (http://www.mec.gov.br/sef/estrut2/pcn/pdf/livro03.pdf e http://www.mec.gov.br/sef/estrut2/pcn/pdf/matematica.pdf), que é um dos cinco blocos de conteúdos conceituais e procedimentais para o ensino da Matemática e tem um destaque especial nos Temas Transversais (Brasil, 1997b) (http://www.mec.gov.br/sef/sef/pcn1a4.shtm). Os tópicos incluem a leitura e interpretação de informações estatísticas, coleta, organização, resumo e apresentação de informações, construção de tabelas e gráficos, cálculo e interpretação de medidas de tendência central e de dispersão, bem como os rudimentos da teoria de probabilidades. Os PCNs sugerem que se inicie esse trabalho desde a Educação Infantil.

A FORMAÇÃO ESTATÍSTICA DOS PROFESSORES QUE ENSINAM ESTATÍSTICA.

A formação estatística dos professores que ensinam Estatística pode ser categorizada em dois grupos, a saber: Ensino Superior e Educação Básica. No Ensino Superior deve se distinguir o ensino de Estatística para a formação do estatístico, da formação de usuários (Figura 1). Na Educação Básica, deve-se distinguir dois segmentos, o primeiro formado pela Educação Infantil e pelos primeiros quatro anos (1ª a 4ª série) do Ensino Fundamental, que neste trabalho será denominado de escola primária e, o segundo, formado pelos quatro anos finais do Ensino Fundamental (5ª a 8ª série) e pelo Ensino Médio, que será denominado de escola secundária, conforme ilustra a Figura 1.

A formação do Estatístico

Segundo as Diretrizes Curriculares para os cursos de Estatística (Brasil, 1999) (Anexo 3), o estatístico deve ser capaz de abordar com proficiência os problemas usuais de sua área de atuação: coleta, organização e síntese de dados, ajuste de modelos - e ter a capacidade de buscar informação para a solução de problemas novos e, encontrando-as, ser capaz de entendê-las e implementá-las. Contempla basicamente três perfis profissionais, o acadêmico, que deve prosseguir cursos de pós-graduação e atuar em universidades e centros de pesquisa; os estatísticos aplicados, que atuam em parceria com outros profissionais e, aqueles que se dedicarão à disseminação do conhecimento estatístico em diferentes organizações sociais, mas de forma especial nas escolas da Educação Básica.

Observa-se que não existe, praticamente, estatísticos lecionando na Educação Básica, porque não existe essa disciplina nesse nível de ensino, além do que, o único curso de Licenciatura em Estatística da UFRGS (http://www1.ufrgs.br/graduacao/xInformacoesAcademicas/cursos.php) foi extinto e, desde 1997, não aparece no concurso vestibular (http://www.ufrgs.br/coperse/cv1997/index.htm).

Nas universidades onde existe curso de graduação em Estatística, geralmente, existe o Departamento de Estatística (http://www.redeabe.org.br/pontos_de_interesse.htm#deptosbrasil) que congrega professores e disciplinas da área. O perfil acadêmico dos professores é graduação em Estatística ou em área ligada às ciências exatas, com mestrado e/ou doutorado em Estatística (Brasil, 1996).

Nas universidades onde não existe o curso de graduação em Estatística, os professores que lecionam essa matéria estão alocados nos departamentos de Ciências Exatas ou Matemática, sendo que a maioria não é graduado em Estatística e possui mestrado e/ou doutorado em cursos onde a Estatística é bastante utilizada, tais como economia, engenharia, agronomia.

Analisando a grade curricular dos cursos de bacharelado em Estatística, Mestrado e Doutorado, verifica-se que quase todas as disciplinas estão voltadas para a formação do estatístico, enquanto domínio do conteúdo, são raros os cursos que possuem disciplinas ou programas orientados para a formação pedagógica desses professores. O mesmo acontece quando se analisa as grades curriculares dos cursos das áreas afins de Estatística. Dominar o conteúdo é uma condição necessária para ensinar, mas se o professor não conseguir trabalhar esses conteúdos de forma significativa com os alunos, o seu ensino será um fracasso.

A taxa de evasão dos cursos de graduação em Estatística atingiu níveis alarmantes. Na UNICAMP, no período de 1970 a 1991, foi a maior de todos os cursos (56%), quando a evasão geral foi de 22% (Faggiani, 1999). Essa situação, no período de 1993 a 2003, melhorou um pouco, mas o nível médio, ainda, é da ordem de 30% (UNICAMP, 2004) (http://www.aeplan.unicamp.br/anuario_estatistico_2004). Situação similar era vivenciada pelo curso de Estatística da UFMG (2005 http://www.est.ufmg.br/flex/graduacao/principal.htm), onde a taxa de evasão chegou a atingir 90% em 1992, conforme ilustra a Figura 2.

Para reverter esse quadro foram implementados Laboratórios de Estatística, monitorias, participação de alunos em projetos. O avanço da informática tem ajudado nesse sentido, pois muitos cursos utilizam e desenvolvem softwares, aplicativos, criaram sites na internet, onde os alunos podem encontrar materiais e suporte para aprendizagem, além da reforma curricular do curso (Brasil, 1999).

Algumas universidades implantaram programas de formação pedagógica dos professores universitários. Por exemplo, a UNICAMP implantou em 2000 o Programa de Apoio Didático (PAD, http://www.prg.unicamp.br/pad/) para alunos de graduação e o Programa de Estágio Docente (PED, http://www.prpg.unicamp.br/ped.phtml) para alunos da pós-graduação. De forma similar a USP implantou, em 1992, o Programa de Aperfeiçoamento de Ensino-PAE (http://www.usp.br/prpg/pt/pro-orga-pae.php) cujo principal objetivo é aprimorar a formação do pós-graduando para atividade didática de graduação, através da Preparação Pedagógica e do Estágio Supervisionado em Docência Superior.

A formação estatística do usuário

Já o usuário de Estatística é formado nos diferentes cursos que utilizam a Estatística como ferramenta. Alguns cursos oferecem uma única disciplina, via de regra, restrita à análise exploratória de dados; outros, duas, incluindo inferência estatística e, raramente, três, sendo essa última voltada para a área específica do curso, por exemplo, delineamento experimental, séries temporais, controle de qualidade entre outras. Aqui dois cursos têm especial importância para a análise do ensino de Estatística: o curso de Pedagogia ou Magistério Superior que forma os professores que lecionam os conteúdos conceituais e procedimentais de Estatística na Educação Infantil e as quatro primeiras séries do Ensino Fundamental (escola primária) e o curso de Licenciatura em Matemática que forma os professores que lecionam nas séries finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio (escola secundária).

Na formação do usuário de Estatística também se observa sérios problemas. Os cursos mais atingidos são os de ciências humanas, sociais e aplicadas e os problemas apontados são: a base matemática precária dos alunos, atitudes negativas em relação à Estatística e Matemática, ênfase excessiva nos cálculos, linguagem e aspectos matemáticos dos métodos estatísticos, falta de laboratórios de informática dentre outros (Fernandez e Selau, 1999; Gracio e Oliveira, 2005; Mantovani e Viana, 2004; Silva, Cazorla e Brito, 1999).

Gracio e Oliveira (2005) apresentam uma experiência de ensino de Estatística para os cursos de Biblioteconomia, Pedagogia e Ciências Sociais, utilizando a metodologia de projetos, que recorrem a práticas da investigação e da pesquisa quantitativa, observando que quando os procedimentos estatísticos estão associados à prática da pesquisa da área do conhecimento do aluno, o ensino torna-se significativo para o aluno. Mantovani e Viana (2004) mostram uma experiência num curso de Administração, utilizando ambientes virtuais com a tecnologia ScreenCam, onde foram desenvolvidos filmes explicativos sobre como aplicar as ferramentas estatísticas,  utilizando um software e interpretando os resultados. Os alunos desafiados a resolver problemas da área perceberam a utilidade da Estatística na sua formação. Experiência similar é relatada por Alves, Montebello, Lacerda e Santore (2004) em cursos de Engenharia.

A formação estatística dos professores que lecionam na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental (escola primária – o maestro)

O curso de graduação de Licenciatura em Pedagogia forma os professores que lecionam Matemática na Educação Infantil e séries iniciais do Ensino Fundamental (Brasil, 2006) (http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/rcp01_06.pdf). Analisando a grade curricular desses cursos observa-se que a maioria dos cursos oferece uma disciplina de Estatística, outros, duas, e alguns, nenhuma (Gonçalves, 2003). Duas disciplinas aparecem ligadas a estes cursos: Estatística Educacional (indicadores educacionais) e Estatística Aplicada à Educação, enquanto ferramenta de tratamento de dados e noções de inferência estatística. Observa-se que nenhuma dessas disciplinas contempla a Didática da Estatística, o que também não fica explicito na disciplina de Metodologia de Ensino da Matemática. Observa-se, ainda, que os alunos dos cursos de Pedagogia mostram resistência à Matemática e Estatística, em alguns cursos as disciplinas de Estatística foram extintas. Estes profissionais são os professores que lecionam a disciplina de Matemática e, consequentemente, os conteúdos de Estatística e Probabilidades para as crianças.

A formação estatística dos professores que lecionam nas séries finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio (escola secundária – o professor)

O curso de Licenciatura em Matemática forma os professores que lecionam Matemática nas séries finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio (Brasil, 2001) (http://portal.mec.gov.br/cne/arquivos/pdf/CES13022.pdf). Analisando a grade curricular de alguns cursos observa-se que a maioria oferece apenas uma disciplina de Estatística e Probabilidade e outros, duas. No caso da oferta de uma única disciplina a ênfase é dada à teoria de probabilidade, num contexto do ensino superior. No caso de duas disciplinas, as ementas abrangem a inferência estatística, também no contexto do ensino superior. A Figura 3 ilustra a formação estatística dos professores responsáveis pelo ensino desta ciência nos diferentes níveis de ensino.

Em suma, o ensino dos conteúdos conceituais e procedimentais de Estatística e Probabilidade na formação dos professores da Educação Básica (Pedagogos e Licenciados em Matemática) não está voltado para que estes possam ensiná-los à crianças e adolescentes, nem contribui para a formação do professor-pesquisador, daquele que é capaz de fazer de sua prática pedagógica um campo de pesquisa, fazendo da Estatística um instrumento privilegiado de análise dessa práxis.

A PESQUISA RELATIVA AO ENSINO DE ESTATÍSTICA

A pesquisa relativa ao ensino e aprendizagem de Estatística está vinculada a programas de mestrado e doutorado e a grupos de pesquisas ligados à área de Educação Matemática, tendo veiculado seus trabalhos em eventos e revistas científicas, também, na área de Educação Matemática e de Estatística.

A Associação Brasileira de Estatística – ABE (http://www.redeabe.org.br), congrega a comunidade de estatísticos e tem como objetivo promover o desenvolvimento, disseminação e aplicação da Estatística no Brasil. A ABE organiza o Simpósio Nacional de Probabilidade e Estatística–SINAPE (http://www.redeabe.org.br/sinape) e patrocina outros encontros regionais (ABE, 2005). Publica um boletim e duas revistas de cunho técnico, não tendo publicado artigos relacionados ao ensino de Estatística. No 16º SINAPE, em 2004, a ABE criou a seção de Educação Estatística, onde foram aprovados 21 trabalhos, dos quais 18 eram relacionados ao ensino de Estatística (3,9% do total), quinze deles ligados ao Ensino Superior e três à Educação Básica. No 15º SINAPE foram apresentados nove trabalhos ligados ao ensino de Estatística (1,7% do total) e, no 14º SINAPE, dez (2,7% do total); via de regra, esses trabalhos eram apresentados na seção Estatística em Ciências Sociais e Humanas. Em geral, os trabalhos relatam experiências de professores que lecionam Estatística para usuários, no Ensino Superior, utilizando ambientes virtuais de aprendizagem, softwares, leitura de artigos científicos, a metodologia de projetos, dando ênfase ao uso adequado das ferramentas na solução de problemas aplicados à área do conhecimento dos cursos. São poucos os trabalhos que abordam os problemas de ensino-aprendizagem de conceitos estatísticos, à luz das teorias de aprendizagem, ou ainda que os relacionem aos aspectos afetivos, tais como atitudes, ansiedade dentre outros aspectos.

 A Sociedade Brasileira de Educação Matemática – SBEM (http://www.sbem.com.br/index.php) (SBEM, 2005), que congrega os educadores matemáticos do Brasil, tem trabalhado, de forma mais sistemática, os problemas relacionados ao ensino-aprendizagem de Estatística na Educação Básica e a formação do professor. A SBEM organiza o Encontro Nacional de Educação Matemática - ENEM e patrocina encontros regionais. No VII ENEM, ocorrido em 2001, a SBEM, criou o Grupo de Trabalho – Ensino de Probabilidade e Estatística, o GT12. Nesse encontro foram apresentados 19 trabalhos relativos ao ensino de Estatística (3,4% do total); na VIII ENEM edição (http://www.sbem.com.br/index.php?op=VIII%20ENEM) foram apresentados 16 trabalhos (3,4% do total). A maioria dos trabalhos tinha como foco a Educação Básica, tomando como referência os PCNs, alguns trabalhos abordam a formação estatística dos professores que lecionam Matemática nesses níveis de ensino. A SBEM publica a revista Educação Matemática em Revista, que se encontra no número 17, tendo publicado três artigos relativos ao ensino de Estatística (Anexo 4). Um outro evento organizado pela SBEM é o Seminário Internacional de Pesquisa em Educação Matemática – SIPEM (http://www.desenho.ufpr.br/IIISIPEM/index.htm) em parceria com os Programas de Pós-graduação que desenvolvem pesquisas em Educação Matemática vinculadas prioritariamente às áreas de Educação, Ensino de Ciências e Matemática e Psicologia. Além do ENEM, algumas diretorias regionais organizam encontros, tais como o Encontro Paulista de Educação Matemática – EPEM (http://www.sbempaulista.org.br/) e o Encontro Gaúcho de Educação Matemática – EGEM (http://ccet.ucs.br/eventos/outros/egem), alguns dos anais podem ser encontrado na página do PROEM (http://www.proem.pucsp.br/public.htm).

Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação - ANPED (http://www.anped.org.br), também tem sido um foro para os trabalhos na área. Fundada em 1976, organiza a Reunião Anual da ANPED, que está na sua 28ª versão. O Grupo de Trabalho em Educação Matemática (GT19), foi criado oficialmente em 1999. No período de 2000 a 2004, o GT19 aprovou 92 trabalhos, dos quais 11 estavam relacionados ao ensino de Estatística. Os trabalhos abordam a leitura e interpretação de gráficos na Educação Básica e a formação de professores de Matemática.

A Conferência Internacional "Experiências e Expectativas do Ensino de Estatística - Desafios para o Século XXI" (http://www.inf.ufsc.br/cee/) (UFSC, 1999) congregou 180 pesquisadores, desses 110 brasileiros, demonstrando o interesse dos profissionais ligados à área de Estatística pelos assuntos relativos ao ensino de Estatística. Foram apresentados 61 trabalhos, dos quais 28 (45,6%) eram de pesquisadores brasileiros, 19 ligados ao Ensino Superior e seis à Educação Básica e, três, para todos os níveis de ensino. Dos trabalhos no Ensino Superior, seis eram relativos aos cursos de graduação em Estatística (bacharelado e licenciatura), o restante, à Estatística para usuários. Alguns trabalhos abordaram as atitudes em relação à Estatística, as dificuldades encontradas pelos estudantes de outros cursos, bem como formas alternativas para tornar o ensino mais eficaz. Os trabalhos voltados para a Educação Básica estavam relacionados ao ensino de probabilidades utilizando materiais alternativos e ao ensino de Estatística utilizando o método de projetos.

O IX Seminário IASI de Estatística Aplicada “Estatística na Educação e Educação em Estatística”(http://www1.ibge.gov.br/cms/ix_iasi ), realizado em 2003, congregou 166 pesquisadores, dos quais 130 eram brasileiros. Foram apresentados 61 trabalhos, 45 (73,8%) brasileiros, dos quais, 21 estavam relacionados ao ensino de Estatística, sendo 16 no Ensino Superior e cinco na Educação Básica. A maioria dos trabalhos relativos ao Ensino Superior abordou as dificuldades enfrentadas ao se ensinar Estatística para outros cursos, principalmente, aqueles ligados às ciências humanas. Muitos deles propõem soluções tais como o uso de projetos, coleta e processamento de dados, aplicados à área dos cursos dentre outros.

Um outro evento que vem congregando trabalhos é o Congresso de Leitura do Brasil-COLE  (http://www.alb.com.br/novocole.php) (Nacarato e Lopes, 2005), no Seminário sobre Educação Matemática (http://www.alb.com.br/seminarios.php?id=4), que tem como foco a relação entre Linguagem e Educação Matemática, mais especificamente a  literacia estatística.

Centros de investigação em Educação Estatística

A maior parte da produção científica produzida em Educação Estatística (Anexo 4) está vinculada a programas de pós-graduação, dentre esses destacam-se:  o Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Estadual de Campinas - UNICAMP, o Programa de Mestrado e Doutorado em Educação Matemática da Universidade Estadual Paulista, Campus Rio Claro, UNESP-RC, o Programa  de  Estudos  Pós-Graduados  em  Educação  Matemática da Pontifícia  Universidade  Católica  de  São  Paulo – PUC-SP e Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva da Universidade Federal de Pernambuco-UFPE.

 O Programa de Pós-graduação da Faculdade de Educação da UNICAMP (http://www.posgrad.fae.unicamp.br/) abriga dois grupos de pesquisa: Prática Pedagógica em Matemática PRAPEM (http://www.cempem.fae.unicamp.br/prapem/indexprapem.htm) e Psicologia da Educação Matemática-PSIEM (http://www.lite.fae.unicamp.br/grupos/psiem/capa.htm). O PRAPEM tem publicado 21 teses de doutorado e 24 dissertações de mestrado, sendo duas teses e três dissertações relativas ao ensino de Estatística. Todos esses trabalhos têm como foco a Educação Básica e a formação de professores. Este grupo tem publicado três livros relativos ao ensino de Estatística abordando a formação do professor da Educação Infantil. Já o PSIEM tem trabalhado os aspectos afetivos (atitudes em relação à Estatística) e cognitivos (Habilidades Matemáticas) na aprendizagem da Estatística, com duas teses de doutorado e uma dissertação de mestrado. Esses trabalhos foram no Ensino Superior e com usuários de Estatística. Existe uma tese que trabalhou as representações de professores de Estatística do Ensino Superior. A UNICAMP edita a Revista Zetetiké (http://www.cempem.fae.unicamp.br/zetetike.htm), mas até o momento não publicou nenhum trabalho na área.

O Programa de Mestrado e Doutorado em Educação Matemática da UNESP-RC (http://www.rc.unesp.br/igce/matematica/pedu/apres_matematica.html) tem produzido três dissertações de mestrado relacionados ao ensino de Estatística. Este programa não tem nenhum grupo de pesquisa vinculado à área. O programa publica o Boletim de Educação Matemática - Bolema (http://ns.rc.unesp.br/igce/matematica/bolema), tendo um artigo na área.

No Programa de Educação Matemática da PUC-SP (http://www.pucsp.br/pos/edmat/) foram defendidas 11 dissertações de mestrado na área, sete orientados à Educação Básica, trabalhando os PCNs, tratamento de informação, gráficos de barras e probabilidades, na ótica da formação do professor ou da formação de conceitos. Os trabalhos dedicados ao Ensino Superior estão orientados ao conceito de probabilidade ou a formação do usuário de Estatística. Os pesquisadores estão vinculados ao grupo Programa de Estudos e Pesquisas no Ensino de Matemática - PROEM (http://proem.pucsp.br/) e publica a revista Educação Matemática Pesquisa (http://www.pucsp.br/pos/edmat/), não tendo publicado artigos na área.

O grupo de pesquisa de Psicologia Cognitiva está vinculado ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia Cognitiva da UFPE (http://www.ufpe.br/psicologia) e tem trabalhado os aspectos cognitivos envolvidos na construção e interpretação de gráficos estatísticos na Educação Básica, produzindo duas teses de doutorado e uma dissertação de mestrado.

Outros grupos de pesquisa, através de seus pesquisadores, que têm apresentado trabalhos em eventos são: Educação Estatística da ULBRA; Educação Matemática da PUC-RS que tem uma linha de pesquisa em Ensino de Estatística e Probabilidade; EPEMAT - Estudos e Pesquisas em Educação Matemática da PUC - Campinas, GPEMAC – Grupo de Ensino e Aprendizagem da Matemática em Ambiente Computacional da UESC, que recentemente publicou um livro voltado para a Educação Básica (Cazorla, 2006); Ensino de Estatística da UNIMEP; GEST da UNIJUI; Ensino de Estatística da UNESP-Marília; Laboratório de Tratamento de Incertezas e Sistemas Adaptativos – LISA da UFSC e mais recentemente o Grupo de Pesquisa em Epistemologia e Ensino de Matemática – GPEEM, da UFSC, que mantém a Rede Eletrônica de Educação Matemática (http://www.redemat.mtm.ufsc.br/index.htm), que tem publicados artigos referentes à área.

Além desses grupos, existem outros, mas não foram encontrados trabalhos vinculados à área, são eles: Estudos em Informática Educativa para o Ensino de Matemática da PUC-MINAS; Educação Matemática da UNISANTA (Santa Cecília); Informática, Tecnologias e Educação Matemática da URI; Grupo de Pesquisa em Matemática – GPM da UNISA (Santo Amaro); Modelagem Matemática da PUC-CAMPINAS e o Núcleo para Desenvolvimento em Tecnologia e Ambiente Educacional da USP – Riberão Preto. A Tabela 1 mostra detalhes desses grupos de pesquisa e a Tabela 2 os pesquisadores que tem apresentado trabalhos na área.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os resultados mostram o crescente interesse dos pesquisadores e professores ligados ao ensino de Estatística, bem como a demanda por pesquisas que dêem respostas aos diversos problemas encontrados no processo de ensino-aprendizagem da Estatística, principalmente, na Educação Básica e na formação de usuários. Espera-se que o 7º ICOTS consolide os grupos e crie um foro permanente, a fim de integrar os educadores estatísticos, criando espaços, canais e veículos específicos para encontros, comunicação e publicação dos trabalhos da área. É preciso alertar a comunidade de educadores estatísticos para que os resultados das pesquisas cheguem à escola, lá é onde se inicia a formação do espírito científico e a Estatística é um instrumento valioso para essa formação e para a cidadania.

REFERÊNCIAS:

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Alves, M. I. F., Montebello, M. I. de L, Lacerda, T. H. e Santore, M. O. C. (2004). Uma proposta para o ensino de Estatística nos cursos de Engenharia. Livro de resumos do 16º SINAPE.

Brasil (1996). Lei de Diretrizes e Bases para a Educação – LBD1. Brasília: MEC.  (http://www.presidencia.gov.br/ccivil_03/Leis/L9394.htm)

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CAPES (2005): http://www1.capes.gov.br/Scripts/Avaliacao/MeDoReconhecidos/Area/GArea.asp

Cazorla, I. M. (2002). A relação entre a habilidade viso-pictórica e o domínio de conceitos estatísticos na leitura de gráficos. Tese de doutorado. Campinas: UNICAMP.

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Notas

1 Segundo a LDB, os professores universitários deverão possuir pelo menos nível de mestrado, condição cumprida de forma mais rigorosa nos grandes centros universitários.

 


Conteúdo (GT 12): Irene Cazorla e Lorí Viali - Programação (GT 12): Lorí Viali (viali at pucrs ponto br)